Iniciei este blog por duas grandes razões: a primeira porque blogar, como se dizia lá no passado, é uma das coisas que melhor sei fazer (e gosto de fazer) e a segunda porque há tempos venho notando que não existe muita opção de blogs para mulheres na faixa dos 40 anos e suas preocupações e alegrias E aí, me pergunto, por quê? E acho que aos poucos estou descobrindo a resposta, é porque a Mulher de 40 Anos é Invisível aos olhos da sociedade. Parece um absurdo, não? Mas será que é mesmo?
Vou expor então, os 3 motivos pelos quais afirmo isso, me usando como exemplo:
1 – Não ser mais nem tão jovem, mas também ainda não ser velha (nem de corpo, nem de mente)
me encontro em um meio termo, ou seja, não sou mais despreocupada e viçosa como nos 20/30 anos, mas também ainda não despenquei totalmente, o que significa 2 coisas: primeiro, que hoje sou mais consciente das responsabilidades da vida (chata, talvez, por conta desta consciência) e segundo, que em termos de aparência ainda estou ok, sem muitas rugas, sem muita flacidez, o que ainda me garante uma certa admiração das pessoas, já que na teoria eu já deveria estar mais acabada.
Entendam bem, não estou reclamando da minha “boa aparência”, mas já ouço esse tipo de afirmação muito mais do que gostaria e aos poucos vai pesando, pois parece que alcancei algum tipo de dádiva, pela qual devo ser grata para sempre. É a grande cobrança da beleza infinita, não é mesmo? É um elogio que recebo, mas ao mesmo tempo já sinto que em breve este cometário deverá mudar, como se só beleza importasse, se o meu esforço em me manter ativa fisicamente, estar bem mentalmente e consequentemente com uma aparência boa não fizesse diferença, uma vez que o que importa de verdade é que ainda “estou bonita pela minha idade”.
2 – Não se dá muita importância para a mulher de 40 no mercado de trabalho
aqui me sinto em um certo limbo afinal, dá sim ainda para conseguir emprego, porém alguns problemas já começam a surgir por não ter mais 20 e poucos anos. É novamente aquele meio termo, porquanto já rola algum comentário sobre a idade. Esquecem que mulheres nesta faixa etária são estudadas, geralmente contam com um bom CV, pois já tiveram tempo de fazer curso superior e pós, sendo que em muitos casos, já está rolando (se já não rolou) uma segunda graduação.
Mulheres de 40 anos possuem também grande experiência no mercado de trabalho e já sabem lidar melhor com suas emoções, pois já viveram um pouco mais que os mais jovens e já aprenderam muita coisa quando o assunto é a labuta, sem considerar que muitas já tiveram até seu próprio negócio e passaram por muita coisa, podendo contribuir grandemente com a empresa para a qual forem trabalhar.
3 – Existir um certo descaso para nossas necessidades emocionais ou de existência mesmo
este, para mim, é um dos motivos que mais incomoda. Nem sei expressar muito bem como me sinto aqui, em particular, pois é bem aquela situação estranha: aos 40, aos olhos da sociedade, já somos “estáveis”, certo? Casadas, com a casa montada ou até já comprada, filhos já crescidinhos e uma carreira que já chegou no nível desejado (ou está quase lá).
Mas e quando a vida é o oposto disso? Meu caso: com 44 anos, separada de um longo relacionamento e casamento, sem filhos, sem o emprego dos sonhos estabilizado, já que este blog é uma coisa que amo e trabalho para que ele se torne minha renda futura, mas estamos falando de futuro. Por conta da minha separação, estou recomeçando a vida, literalmente. A casa que eu tinha foi desmantelada e comigo sobrou muito pouca coisa do que construí com tanta dificuldade, ao longo dos meus 30 anos. Enfim, sei que isso pode soar esquisito mas a verdade é que não me vejo representada em quase lugar algum.
Não que eu ache que todos deveriam compartilhar dos mesmos problemas que eu, mas sei que existem muitas outras mulheres nesta mesma situação que eu e não se fala disso. No cinema, por exemplo, o único filme que assisti que fala deste assunto é Minha Vida em Marte, do restante, só temos romances e histórias lindas com desfechos felizes e quase sempre envolvendo pessoas mais novas. E cadê histórias com as quais eu me identifique, que fale das mesmas dores que eu senti e ainda sinto por conta da minha nova posição de separada, sem casa, sem filhos, sem emprego de boa remuneração, que tem que recomeçar tudo do zero, se reinventar, se quiser ter algo no futuro?
Pior é saber que vi isso tudo acontecer com minha mãe e outras amigas, há tempos atrás, e nada mudou de lá para cá.
Concluindo:
este post não é para ser um mural de reclamações mas sim um chamado de “vamos acordar” e entender que a vida não é comercial de margarina e que muitas mulheres hoje, nesta faixa dos 40 anos, estão trabalhando duro para reiniciar suas vidas, ou apenas prosseguir com o que já construíram, porém não com um olhar cansado, repetitivo mas sim, fresco. Queremos nos ver representadas em algum lugar, seja no cinema, na internet (em mais blogs como este), nas redes sociais, onde parece só haver espaço para discussões infinitas sobre política ou apps bobinhos como TikTok.
Queremos mais opções de literatura, entretenimento, conhecimento, estudo variado e apurado para nossa vontade de aprender (sim, nós já sabemos muito mas não sabemos tudo e nem sempre queremos começar do zero, apenas agregar mais conhecimento e para isso os cursos precisam mudar, sejam eles na esfera que forem – universitários, livres, etc), queremos ler mais sobre este momento da vida que é crucial para muita gente, afinal é quase o meio do caminho da vida hoje em dia e precisa ser trilhado com mais cuidado, vivendo o presente mas com um olhar no futuro, afinal ninguém está ficando mais jovem.
Não é ser negativa ou cansada, é ser feliz com a idade que se tem, com os sonhos que ainda se quer realizar. Mas precisamos ser vistas, precisamos que mais conteúdo para nós seja produzido, compartilhado. Aos 40, estamos vivas, somos mais experientes, espertas, com uma energia enorme e precisamos que nos enxerguem dessa forma.
Observação: quem fala muito sobre a mulher de 40 ser invisível é a minha colaboradora Carol Stange, educadora financeira, uma profissional incrível e, como eu, na faixa dos 40.
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